MARCUS VINICIUS - 2020


Certa manhã 
ia eu pelo caminho pedregoso, 
quando, de espada desembainhada, 
chegou o Rei no seu carro. 
Gritei: 
Vendo-me! 
O Rei tomou-me pela mão e disse: 
Sou poderoso, posso comprar-te. 
Mas de nada lhe serviu o seu poder 
e voltou sem mim no seu carro. 






As casas estavam fechadas 
ao sol do meio dia, 
e eu vagueava pelo beco tortuoso 
quando um velho 
com um saco de oiro às costas 
me saiu ao encontro. 
Hesitou um momento, e disse: 
Posso comprar-te. 
Uma a uma contou as suas moedas. 
Mas eu voltei-lhe as costas 
e fui-me embora. 




Anoitecia e a sebe do jardim 
estava toda florida. 
Uma gentil rapariga 
apareceu diante de mim, e disse: 
Compro-te com o meu sorriso. 
Mas o sorriso empalideceu 
e apagou-se nas suas lágrimas. 
E regressou outra vez à sombra, 
sozinha. 






O sol faiscava na areia 
e as ondas do mar 
quebravam-se caprichosamente. 
Um menino estava sentado na praia 
brincando com as conchas. 
Levantou a cabeça 
e, como se me conhecesse, disse: 
Posso comprar-te com nada. 
Desde que fiz este negócio a brincar, 
sou livre.






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